Deixá-las ir a ave, a vela, a alma, a vida,
Há-de haver nessa perda
Uma razão móvel
(as palavras que me põem na boca)
Para decifrar o sentido ao rio do tempo interior
Em que me expunha, como criança nua, inadvertida,
Tentando regressar às manhãs do mundo.
Tudo está no passar, dirão depois de mim,
Pois adivinho a passagem das mágoas, dos afectos,
Embaraços fieis à ideia que vive
Quando o mundo sentido, pressentido, vai ou se esvai,
Morrendo, mudando, transformando
A própria natureza do seu ser na luz infinita
Do ser nada.
Deixarmo-nos ir, nas explosões de cólera
Da terra, na gesta dos exaltados da morte em suas puras,
Malignas, gloriosas façanhas, em músicas do fim
Em sangue vivo, em farrapos a arder de carne humana,
Em luminosas estrofes de deus, em pusilânimes
Atletas da politica, da beleza física,
Nos seus banquetes de ouro.
Curvo-me perante a transcendência.
Tudo o que descende dessa verbal alegria do divino,
O pranto e a imprecação que vêm nos livros,
Me impele a uma dor submersa, taciturna
Que o meu corpo recebe como um dom,
Fluido mental que me liga ao universo e ao medo,
Iguais na boca, toda, aberta à energia.