Para que serve a poesia, minha amiga? serve de morada
é lá que recebemos os avisos e as convocatórias
e descemos as escadas
de chave farejada na mão.
Chova e não chova
para abrir uma caixa
são precisos cinco passos sem história.
Haja o extracto de conta
publicidade
e mesmo uma conta, a sério.
Mas por surpresa
ou (honra lhe seja feita)
distracção da expectativa
aí há-de jazer
o envelope mistério.
Aquele que por mais vezes que o abramos
não desvenda nunca
quase tudo do amor.
Com outra chave farejada o abrimos
chova ou não chova
as mãos enchem-se de gotas
(esperando, sim, não saber, por hoje,
o que de lá se declara dos ocultos,
para que serve a poesia).